Senso de humor

mulheres-barO sonho de todo homem é casar.

Todo mundo sabe disso.

Os homens são criados para se comportar de maneira a atrair uma esposa honesta e trabalhadora, que possa sustentá-lo e aos filhos.

Todo mundo sabe também que as mulheres amam seus maridos profundamente, mas quando estão com as amigas precisam mostrar que na verdade preferiam estar solteiras. Afinal de contas, demonstrar sentimentos e deixar claro que ambos, marido e mulher, se dedicam em pé de igualdade para a relação dar certo, vai fazer as amigas rirem dela e chamá-la de sapata, né? Mulher nenhuma quer parecer masculinizada. Continuar lendo

Derrotada

large (2)_A vida não é feita só de sucessos, sabe?

_Oi?

_A vida, cara. Dá uma certa frustração ouvir todas aquelas histórias de gente que arriscou tudo e conseguiu realizar o sonho da vida dela e então olhar para a própria vida e encontrar a si no mesmo lugar, na mesma cadeira, na mesma rotina, fazendo a mesma coisa so far far away de tudo o que você se imagina fazendo quando tiver tempo, quando tiver dinheiro, quando tiver… Continuar lendo

O pedido

_Boa tarde, senhora. O que deseja?

“Uau, nossa… Essa é uma pergunta bastante complexa… Veja bem, se está se referindo apenas ao que desejo neste momento, bom…

Primeiramente gostaria de ter mais energia, sabe? Normalmente canalizo toda minha energia às minhas atividades que considero prioridade e então, quando chega a hora de botar em prática aquelas que verdadeiramente me realizam, não tenho mais ânimo e parto apenas para o que me traz prazer imediato.

Também gostaria de deixar de julgar as pessoas, entende? Mas isso parece que é quase inconsciente. Quando você vê, BANG! Julgando. Não é legal. Continuar lendo

A garota da capa

comissao-formaturaPegávamos o mesmo ônibus todos os dias, ida e volta.

Ela sempre foi simpática, sempre se ofereceu para carregar minhas coisas quando eu estava em pé e nunca deixou de me cumprimentar quando passava por mim.

Eu sempre fui gentil com ela, mas não deixei de julgá-la por não cortar os cabelos completamente brancos e se vestir como prega a religião evangélica.

Até o dia em que ela se senta à minha frente e dispara a falar sobre o seu dia corrido e passagem no médico. Continuar lendo

Chatice Crônica

mulher-bebendo-leite-15609Esse ano eu descobri o porquê dos povos antigos e nômades, ou em guerra, abandonarem os doentes à própria sorte: não é por conta do atraso que a mobilidade prejudicada provocaria em todos. É porque gente doente é muito chata.

Cheguei a essa conclusão agora, que faz um ano que descobri que sou alérgica a leite (e a outras coisas, mas leite é a mais chocante.) E quando a gente diz que é alérgica a leite, a pessoa já fala: “Ah sim, intolerância à lactose, né?” Não, quiridinho. Não é intolerância à lactose.

Intolerância é a dificuldade em digerir a lactose, que causa dores abdominais, enjoos, vômitos, diarreia e gases. Eu tenho isso também.

Só que a alergia ao leite causa coceira e bolinhas na pele, incha as mucosas, fecha a garganta e te mata. A minha não é tão forte assim, mas ficar inchada e coçando não é nada divertido.

Esse é o primeiro sinal da chatice de uma pessoa doente: ela é incapaz de não explicar a sua doença e ficar horas enumerando os sintomas e o quanto ela sofre com cada um deles.

E se for uma louca do Google, que adora futricar sobre os próprios males nesse saco sem fundo que é a internet assim como eu, o volume de informações mazelais aumentam consideravelmente e começam a envolver temas como nutrição, dieta, terapias alternativas, vegetarianismo, Leonard Hofstadter, famosos que foram flagrados tendo choque anafilático, quais signos combinam com pessoas alérgicas como você e como fazer um homem alérgico feliz na cama.

A segunda maior chatice de uma pessoa mazelada são as coisas que ela não pode fazer por conta da doença: eu não posso ter uma festa surpresa, pois provavelmente não poderei comer meu bolo de aniversário. Sou a chata que leva o próprio purê de batatas, sem leite e manteiga, quando é convidada para almoçar na casa de amigos e que fica perguntando para garçons e atendentes quais são os ingredientes daquele prato do menu ou doce da vitrine. Sou aquela que o namorado precisa pagar o dobro (ou o triplo) pelo chocolate de soja e 50% de cacau, que irá salvá-lo da minha TPM. E sou excluída de rolês na pizzaria por motivos óbvios.

A famosa piada “Se não aguenta, bebe leite” também ganha outras proporções na minha situação.

Minha caixa de primeiros-socorros conta com três tipos diferentes de antialérgicos e remédios para o fígado. E pelo menos UM ponto positivo tudo isso tem: meu consumo de soja aumentou 70%, meu nível de estrogênio idem e por isso meus peitos cresceram.

Mas ter peitos um pouco maiores não vai compensar minha chatice. Qualquer pergunta inocente, tipo “Onde vamos comer?”, “Quer pudim?”, ou “Como você está?” despertam minha compulsão e preciso de um esforço sobrehumano para não começar a dissertar sobre minha alergia até que meus interlocutores comecem a acreditar que todos eles também são alérgicos a leite.

Como se isso não bastasse, também tenho enxaqueca nervosa/hormonal, níveis elevados de testosterona e paixonite aguda. Sou uma chata crônica.

O que se não faz de mim uma fraca abandonada para a morte pelo seu povo por uma questão meramente de contexto histórico, me faz correr sérios riscos de ser abandonada pela sociedade e virar a velha louca dos gatos, o que dá praticamente no mesmo.

E o pior de tudo: eu sou alérgica a gatos. Não contei?

Liberdade

O nome dela é Lidia. O dele não importa, porque a história é dela, embora o envolva.

Ela nos viu juntos e disse que éramos “um casal lindinho”, do alto da sua experiência de 64 anos de vida. Disse que ele lembrava o seu marido, já falecido.

_Fomos noivos durante 8 anos, naquele tempo usava-se noivar. Nos casamos e, um ano e quatro meses depois ele sofreu um acidente de automóvel. Morreu na hora. Não restou um único osso inteiro no corpo dele.

Não sou capaz de imaginar a dor que ela enfrentou. Apenas balbucio expressões usadas nessas ocasiões: “Meu Deus, sinto muito!”, “Que tragédia!”, “Que coisa terrível.”

Também disse que caiu doente, depois do que aconteceu. Teve síndrome do pânico. Medo de sair de casa, medo de ficar sozinha, medo das outras pessoas, medo de viver.

Não sou capaz de imaginar a dor que ela enfrentou. Continuar lendo

Coisas boas da semana

Tenho amigos interessantes. Gente realmente fora do comum.

Muitos deles vieram por causa desse blog e acho que quase todos vieram por causa da internet, o melhor lugar para conhecer gente normal no sentido “ser normal é não ser normal” que a palavra “normal” traz.

Tenho, por exemplo, amigos viciados em coisas medievais, amigos que fazem coisas incríveis com as próprias mãos, amigos que tocam e cantam muito bem, amigos que conseguiram sucesso profissional antes dos 25 anos, amigos que sempre têm algo foda para dizer no momento certo, amigos que escrevem, amigos que desenham, amigos que pintam, amigos que cozinham coisas mágicas.

No fundo, não sei se eu que dou a sorte de conhecer todo tipo de gente incrível desse mundo ou se, na verdade, é o universo que coloca essas pessoas incríveis no meu caminho de propósito, para que eu esteja sempre cercada de bons exemplos.

Anyway, um desses amigos tem o dom de me indicar bandas que eu vou cair de amores em seguida. A gente meio que compete pra ver quem vai apresentar o próximo vício do outro. E dessa vez ele zerou o jogo tão zerado, que eu não quero mais brincar.

A coisa boa da semana é a banda CocoRosie. Não sei se você, leitor, vai gostar. Mas eu não consigo parar de viajar nessas músicas.

Brigada eu.

Trivialidades da Vida (Fernanda Mota) – A Caneca (conto)

Mundo Mel (Melissa de Sá) – Carta para meu eu de 14 anos (crônica)

Edu Bernard (Eduardo Bernardinelli) – Quem é você? (crônica)

Hugo Rodrigues – Entre beijos, mordidas e dormências (crônica)

Hqrizando (Cleber Betto) – Excesso de café (tirinha)

Nunca Fui Fofa (Dre Reze) – Num mundo novo (crônica)

Entre Todas as Coisas (Daniel Bovolento) – Até logo (crônica)

Bichinhos de Jardim (Clara Gomes) – Marque a resposta (tirinha)

Mentirinhas (Fabio Coala) – Chegada (HQ)

Torradas Tostadas (Nina Rocha) – Papo de ônibus (conto)

Boas Novas (Diego Freire) – Caridade (vídeo)

Leia-me: O Segredo da Plataforma 13

o-segredo-da-plataforma-13-eva-ibbotsonMais um livrinho de criança que me cativou. O enredo não é surpreendente e cheio de reviravoltas. Os personagens não saem muito do estereótipo do bem e do mal, mas sabem o que me prendeu do início ao fim? Descobrir qual foi a cadeia de acontecimentos que levou todos os personagens na situação que se encontram. E claro: também os detalhes e funcionamentos de um universo fantástico, criado pela autora Eva Ibbotson. Isso sempre me cativa.

A história toda gira em torno do fato de que há uma ilha mágica situada em outra dimensão e que há um portal para essa ilha na tal plataforma 13. A cada 9 anos esse portal se abre por 9 horas e qualquer criatura da ilha pode se mudar para o nosso mundo e Continuar lendo

Longas pernas

metroImaginem o cenário: metrô de São Paulo, 8h30 da manhã.

A cada três metrôs no sentido oposto, passa um no sentido no qual preciso pegar.

E os metrôs que passam (a cada três do sentido oposto) estão tão abarrotados que não dá tempo das pessoas de dentro saírem e as de fora entrarem.

Então a plataforma vai se enchendo cada vez mais.

No sexto metrô que para, abre e sai gente, vejo uma brecha com o exato espaço para caber a mim, meio de lado e com a perna esquerda levantada, mais a minha mochila. Contraio a barriga, desvio de um cotovelo e entro, esperando a porta fechar atrás de mim para poder soltar meu peso contra ela. Continuar lendo

Carta ao menino que desenhava

Ilustração de Stephen Wiltshire

Ilustração de Stephen Wiltshire

“28 de marco março de 2010

Oi, menino.

Fiquei com vontade de escrever para você.

Te vi sozinho desenhando, sob uma árvere árvore do parque onde eu estava andando de bike bicicleta. Dei umas três voltas no parque todo e você continuava lá, sentado, rabiscando. Na quarta volta eu resolvi estacionar do seu lado e quase capotei de bike em cima de você minha curiosidade venceu e eu dei um jeito de sentar sob a mesma árvore que você.

Você até olhou pra mim e riu um pouco deu um sorriso discreto, que eu correspondi enquanto encostava a bicicleta no tronco. Depois disso você voltou a se concentrar no desenho e nem viu enquanto eu tirava o meu livro da bolsa e me recostava para fingir que lia. Continuar lendo