Eu, meu ego e o Brasil Tostines

Então é isso. Eu nunca pensei que justamente eu fosse escrever um texto tão pessimista e sem esperanças.

Mas gente esperou décadas para o Brasil acordar. E quando ele acordou, despontou a dúvida se estamos mesmo preparados para pedir mudanças.

Sim, porque a gente mete o pau no projeto de cura-gay do Feliciano, chamando o pastor/deputado de “viado enrustido”. A gente é contra a corrupção pagando cafezinho para o guardinha não multar nosso carro estacionado há horas na zona azul. Fazemos cartazes falando de inclusão social, mas estacionamos em vagas para pessoas com necessidades especiais. A gente vai na rua gritar que quer transporte público de qualidade, mas vai pro trabalho todo dia de carro sozinho e ainda reclama que o congestionamento está foda. Queremos ser respeitados como ser humano e que a polícia não cometa abusos, mas acha ok segurar mulher pelo braço na balada e consideramos embebedá-la uma tática de conquista. Vai na marcha das vadias levantar faixa contra estupro, mas bota em dúvida a virilidade do cara que não quis te comer. Continuar lendo

Quem é o Brasil?

Eu nasci no país do futebol.

Mas eu não sou fanática por futebol como a maioria dos meus amigos. Não entendo nada sobre as regras do esporte, não tenho um time do coração, nunca fui ver um jogo em um estádio.

Talvez seja porque eu cresci em um ambiente onde o futebol não fosse tão importante quanto outros aspectos do cotidiano. Não via com frequência meu pai questionando a dignidade do juiz durante um cartão vermelho ou uma falta óbvia. Não via meus tios conversando sobre os lances mais bonitos ou os pênaltis sofridos do último jogo.

É engraçado dizer isso sendo brasileira e sabendo que no exterior essa é uma das nossas principais características: somos o país do futebol.

Mas até mesmo eu, quando vejo a Seleção vestindo as cores do uniforme, me emociono. Não entendo muitas coisas que vejo, mas eu tremo, eu vibro. Sofro quando um gol é impedido (enquanto ainda me esforço para entender essa regra bizarra), uma falta é ignorada, ou um jogador expulso.

E é inevitável gritar com todas as forças dos meus pulmões quando um gol sofrido sai. Os olhos enchem de lágrimas, sim. O coração acelera.

E eu não sou fanática por futebol.

Mas sabe essa emoção que brota? Ela brota por ver as cores da bandeira do meu país ali, correndo em onze pontinhos brilhantes sobre o gramado. Pensando que mesmo enquanto a gente está gritando e sofrendo por um jogo, as pessoas que deviam estar cuidando da gente estão se aproveitando do nosso jeito festeiro e caloroso. A emoção que eu tenho durante um jogo da seleção é por ver todos aqueles brasileiros unidos, se esforçando por uma vitória do nosso país.

Eu também nasci no país da corrupção. Continuar lendo

Tente ser indiferente

Não é a primeira vez que abordo este assunto. Já publiquei um conto falando sobre isso e hoje, entre um clique e outro, encontrei essa HQ perturbadoramente sutil do desenhista Jason Yungbluth.

Não espero que vocês gostem. Espero que vocês se incomodem com mais essa pedra no sapato, porque sempre foi essa a minha intenção com este blog.

Eu vi esta HQ no blog do Gian Danton que viu no Nerd Pai.

Tampando o sol com a peneira

2009 ou 1909Depois de um ano pesquisando tudo sobre determinado assunto e trabalhando em cima de um mesmo tema, é inevitável acabar se envolvendo.

A primeira grande prova disso foi no ano passado, quando o meu projeto era planejar uma campanha para uma ONG e posso afirmar que foi o trabalho mais denso e emocionalmente extenuante no qual já investi meu tempo.

Este ano a proposta era algo mais leve: uma campanha real para um cliente real e nossa agência experimental acabou por optar por determinada marca de preservativos como cliente. A ideia era trabalhar o conceito “todo mundo pensa em sexo”. Todo mundo MESMO. Continuar lendo