Submundo

Agora que subi à superfície, não deixarei que o ostracismo volte a me submergir.

Vou expor minha família, meu corpo, meus erros.

Permitirei que subestimem minha inteligência, que me reconheçam pela mediocridade e beleza e aceitarei a alcunha de sub-qualquer-coisa.

Serei humilhada em público, ignorarei os obscuros e abraçarei os necessitados quando me convir, contanto que suas lágrimas não borrem a máscara da minha futilidade.

Esquecerei quem me ajudou, deixarei para trás os amores que não me servirem, pisarei em quantas cabeças achar que devo.

Farei o teste do sofá.

Deixarei todos os escândalos vazarem. Arruinarei famílias e sonhos.

Me aproveitarei da ânsia pela vida alheia e do circo horrores. Serei o novo bobo da corte.

Construirei castelos de cartas e areia. Posarei para campanhas de segunda linha.

Não terei amigos. Somente passaportes.

Me drogarei. Agredirei. Polemizarei.

Usarei mini-saia sem calcinha.

Me arrependerei e chorarei lágrimas de crocodilo.

Farei o que for necessário.

Mas não permitam que eu viva para voltar a ser anônima. Me deixem morrer enquanto o meu nome ainda é repetido, não importam quais sejam as palavras que o acompanhem.

Assim, descansarei em paz.

Conhecem o @kempcartunista? O cartum que ilustra esse post é arte dele. Visitem o Lactobacilo Morto, para conhecer mais do seu trabalho!

15 pensamentos sobre “Submundo

  1. Querida,
    bastante realista.
    Tive um pouco de vontade de mandar algumas notícias de jornais, blogs, tv para ilustrar seu texto.
    Percebi que se me detivesse ao dia de hoje apenas, não haveria espaço para inserir tudo o que já li e vi. Triste, não é?
    bjs
    Helena

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